(ENGLISH VERSION BELOW)
REPÚBLICA OU O TEATRO DO POVO
Ciclo Estados–Gerais
04.04 - 25.04 2009
Rossella Biscotti (IT 1978)
Hugo Canoilas (PT 1977)
Asier Mendizabal (ES 1973)
Mariana Silva (PT 1983)
+
Herbert Bayer (AT 1900 - US 1985)
Na crença do colectivo como produtor de um contexto vivencial, social ou ideal, a exposição República ou o Teatro do Povo procura pôr em confronto diferentes perspectivas de reflexão da posição do Sujeito enquanto elemento preponderante de resistência e edificação de estruturas sociais no interior deste mesmo colectivo.
Esta noção do Sujeito enquanto Indivíduo de eminente responsabilidade social, o qual somente pela sua afirmação se constitui alicerce tanto fundador como regulador de um determinado Estado ou sistema de Lei, abrirá o caminho para a uma autonomia da Estética, validada enfim pelo desenraizar do Indivíduo do Sujeito. Será igualmente esta noção de responsabilidade e acção do Indivíduo a, através da sua transversalidade social, sustentar a ideia de povo enquanto massa, ou seja, a reconhecer a capacidade do todo como agente.
Neste sentido, e desde então, a ambiguidade entre a autonomia do Indivíduo enquanto capaz de juízo reflexivo e a sua inclusão num colectivo como força motora (do Estado e da Revolução) tem-se revelado como uma das questões fundamentais na relação entre as Artes, o Artista e o seu posicionar social.
Por outro lado, o posicionamento do actor no público, ou por outras palavras o reconhecimento do Artista no Indivíduo, como se pode ler no ensaio pré-modernista Le Théâtre du Peuple, de Romain Rolland, um de entre vários tratados que na viragem do séc. XIX aproximaram o Teatro de ideais de democratização, indicia o princípio da pretensão das Artes à constituição ideal da Estética para a comunidade igualitária ou de uma comunidade Estética igualitária propriamente dita.
É nesta indefinição do trabalho no intervalo entre o Colectivo e o Individual, entre um potencial e sempre possível anonimato do autor e a procura, bem como a partilha, da autoria na apropriação do anónimo, isto é, o Artista como trabalhador comum ou a possibilidade de qualquer como possível artista, que os trabalhos expostos se determinam.
Partindo de uma intuída absorção cultural do colectivo, das suas ramificações e da disseminação de símbolos ideológicos, Asier Mendizabal (ES 1973) explicita, a diferentes graus de aproximação e envolvimento, o poderio encontrado na referida promiscuidade dos papéis autorais. Esta dá-se sob um recorrente, e fundamental para as questões que levanta, cenário de fundo: o País Basco; relevando deste modo um sentido de Local e de transcendência exemplificativa.
Hugo Canoilas (PT 1977), por outro lado, tem vindo a desenvolver a sua prática precisamente numa indefinição de posicionamento, tanto estético como autoral. Esta ambiguidade traduz uma urgência de conflito e reposicionamento do espectador, na visão e no envolvimento deste como fulcral para a compreensão das propostas, as quais têm vindo a recorrer à apropriação de linguagens anónimas e ideologias múltiplas e incompatíveis.
Através da apresentação de Notgeld – dinheiro de emergência – desenhado por Herbert Bayer em período de inflação económica (República de Weimar; 1923), Mariana Silva (PT 1983) expõe a inclusão anónima de uma linguagem estética no sistema de circulação económica. O gesto da artista assume um distanciamento autoral do apresentado, de modo à devolução nua do facto histórico ao público, num enquadramento transversal à sua prática em torno de contextos históricos e sociais precisos os quais trabalha a diferentes graus de abstracção ou claridade expositiva.
Em L'Italia é una repubblica democratica fondata sul lavoro Rossella Biscotti (IT 1978) contrapõe a construção precária de bens de primeira necessidade – uma barraca e um barco – à constituição de um Estado de direito e o Trabalho como mecanismo de construção identitária e comunal. A peça apresentada, de 2004, é marcante no seu percurso pelo aprofundamento que representa na sua pesquisa, a qual se tem vindo a desenvolver em torno da relação entre Estado e Sociedade e o entendimento da Arte enquanto dispositivo de poder.
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REPUBLIC OR THE PEOPLE'S THEATRE
Cycle Estates–General
04.04 - 25.04 2009
Rossella Biscotti (IT 1978)
Hugo Canoilas (PT 1977)
Asier Mendizabal (ES 1973)
Mariana Silva (PT 1983)
+
Herbert Bayer (AT 1900 - US 1985)
While believing the collective to be the producer of an experiential context, social or ideal, Republic or the Theatre of the People seeks a confrontation between different perspectives on the position of the Subject; as a preponderant element of resistance and edification in social structures and in the interior of this collective.
This notion of the Subject as an Individual of eminent social responsibility who only through self-affirmation will become a founding basis, as much as a regulator of a certain State or system of Law, opened the path for an autonomy of Aesthetics, validated by the displacement of the Individual from the Subject. Likewise, this notion of responsibility and action of the Individual, through its social transversality, sustains the idea of People as mass, i.e. recognising the capacity of the whole as an agent.
In this sense (and since then), the ambiguity of the autonomy of the Individual, as capable of a reflexive judgement and being included in a collective as a driving force, (of the State and the Revolution) has revealed itself as one of the fundamental questions in the relation between the Arts, the Artist and its social position.
On the other hand, the positioning of the actor in the public, or in other words the recognition of the Artist in the Individual, (as one can read in the pre-modernist essay Le Théâtre du Peuple, by Romain Rolland, one among numerous treaties that at the turning of the 19th century brought together the Theatre and ideals of democratisation) indicates the beginning of the pretension of the Arts to constitute the Aesthetic ideal for the egalitarian community, or the Aesthetic-egalitarian community itself.
The works shown define themselves in the space between the Collective and the Individual; between a potential and always possible anonymity of the author and the search for (as well as the sharing of) authorship in this appropriation: the Artist as a common worker or the possibility of anyone as an Artist.
Starting from an intuitive cultural absorption of the collective, of its ramifications and the dissemination of ideological symbols; Asier Mendizabal (ES 1973), makes explicit, to different degrees of approximation and involvement, the power found in the referred promiscuity of the authorial roles. This is given in a recurrent background (The Basque Region), fundamental to the questions it raises, in this way highlighting a sense of Place and exemplificative transcendency.
Hugo Canoilas (PT 1977), on the other hand, has been developing his practice in an indefinition of positioning, as much aesthetic as authorial. This ambiguity translates into an urgency of conflict and repositioning of the viewer, with its vision and involvement as crucial for the comprehension of the proposals, which have been recurring to the appropriation of anonymous languages and multiple, incompatible ideologies.
Through the presentation of Notgeld- emergency money- designed by Herbert Bayer in a period of economic inflation (Weimar Republic, 1923), Mariana Silva (PT 1983) shows the anonymous inclusion of an aesthetic language in the system of economic circulation. The artist´s gesture assumes an authorial distance from the presented work, in order to crudely return the historical fact to the public, in a framing transverse to her practice around precise historical and social contexts which she works to different degrees of abstraction or clarity in presentation.
In L'Italia é una repubblica democratica fondata sul lavoro, Rossella Biscotti (IT 1978) contrasts the precarious construction of basic human necessities -a shack and a boat- to the constitution of a Rule of Law and the Work as a mechanism of identitarian and communal construction. The piece shown, from 2004, is important in the furthering of her research, which has been developing itself around the relationship between State and Society and the understanding of Art as a power device.